Havia uma ânsia naquele rapaz ao entrar na sala. Uma inquietação que ele sabia muito bem disfarçar com um andar bem ritmado, de passos firmes, direção certa e cabeça erguida. Desde o dia da matrícula, já gostara do ambiente do novo curso: meninas simpáticas e de boa aparência pareciam jorrar pelas portas das salas no hall da recepção. Pôde perceber cinco ou seis delas, além de uma professora, em quem poderia, provavelmente, ter uma motivação a mais para aprimorar o francês. Nunca conseguiu agir de outra forma. Como a um animal, uma força primitiva fazia com que todas as mulheres bonitas lhe magnetizassem. Mas seus arrebatamentos eram muitíssimos controlados; nas feições mais distraídas escondiam-se olhos em chamas, olhos de uma atenção gratuita e um desejo perpétuo.
Na primeira aula, como já se poderia esperar dele, uma moça drenou cada gota de sua atenção. As palavras da professora só precisavam ser ouvidas quando fossem extremamente necessárias para que sua próxima fala fosse correta – ou, ao menos, não soasse ridícula. Só tinha olhos para a moça de cabelos cor de cobre, pele clara e sorriso fácil. Ela era linda em cada mínimo detalhe. E as minúcias foram o deleite do tão observador rapaz por muitas outras aulas. Durante quase cinco semanas, cada gesto, cada palavra, cada cor de sapato, cada amarrar de cabelo foi esquadrinhado, sorvido, apreciado silenciosamente pelo rapaz. A tão bela figura da moça acompanhava seus pensamentos por quase todo o tempo. Levava-a para casa ao final das aulas, e com ela permanecia em pensamentos até a outra, retornando ainda mais apaixonado. E assim crescia o inconfessável amor do rapaz pela moça dos cabelos acobreados. Continuar lendo